quarta-feira, 29 de abril de 2020

TINA - RESPEITO

Capa de Tina - Respeito

Quando comecei a ler “Respeito”, fiquei pensando Eu quero que todas as minhas amigas também leiam esta hq”, porém, o pensamento mais acertado éTODO MUNDO deve ler esta hq”.
O que, para mim, alguns momentos da história soa como impactante, para muitas mulheres, elas chamam isso de um dia “normal” (que de normal não há nada!). Praticamente todas as mulheres conhecem muito bem o que aconteceu à personagem nesta história. Se todas não viveram algo parecido, pelo menos, conhecem uma que sim.
Tina é uma jornalista recém-formada, e finalmente o seu sonho de trabalhar na redação de um grande veículo de imprensa se tornando realidade. Ela só não esperava que seu maior desafio fosse ser pessoal, e não profissional. Em “Respeito”, Fefê Torquato (texto e arte) usa a personagem de Mauricio de Sousa para expor diversos problemas que as mulheres enfrentam em suas vidas. O assédio sexual, moral, machismo e vários outros tipos de preconceito… Tudo está lá, sendo mostrado para nós sem ser “lacrador”, como algumas pessoas imbecis chamaram a obra, numa tentativa de minimizá-la.
A Fefê conseguiu construir algo grande demais para ser detido por imbecis. Ela aborda com muita verdade o medo da mulher, da mulher negra, da homossexual, da trabalhadora. Fez uma obra sincera e que não pede permissão para expor os males que assombram, se não todas mulheres, pelo menos a maioria delas.
Os homens devem ler essa graphic novel porque é primordial se colocar na escuta quando alguém que está em seu lugar de fala discorre sobre algo que lhe atinge. É um bom passo para exercitar a empatia. O que para muitos de nós é exagero uma mulher ficar incomodada porque tem um homem andando a poucos passos dela na rua, conforme mostrado na história, isso é um tormento real e palpável no dia a dia de muitas mulheres.
As crianças – meninos e meninas – PRECISAM ler porque quanto mais cedo elas entenderem como devem agir diante disso tudo, seja não se calando, seja não cometendo o assédio, melhor.
As mulheres devem ler não somente pela identificação, mas também como um convite a ação. Lembrá-las que a sociedade, infelizmente, não para para ouvir as suas dores. Então, nada melhor que fazer barulho juntas. Se não serão ouvidas porque sofrem, serão ouvidas porque são muitas e estão unidas.
É muito bonito ver essa rede de apoio se construindo na história.
Outra coisa muito bonita é a arte de Fefê. Ela criou um trabalho com cores suaves e um traço delicado que faz com que seja mais leve mergulhar em assuntos tão pesados.
Nos mostra também uma Tina menos curvilínea (algo tão explorado em histórias passadas), numa tentativa de fazer as pazes com a primeira versão da personagem. Ela tem que ser notada pelo que pensa e fala, não pelo corpo ou como se veste.
Como sempre, não canso de parabenizar o Sidney Gusman pelo magnífico trabalho com as Graphic MSP. Não só a proposta de remodelar personagens tão queridos e amplamente conhecidos, mas por aproveitar esse alcance gigante da Turma e tratar de temas que são essenciais.
Assim como Jeremias – Pele, Tina – Respeito é o tipo de obra que a gente fica dizendo que todo mundo deve ler. Que é obrigatória nas estantes de casa e das escolas. Pois é atualíssima, necessária, (dolorida) e inteligentíssima.