quinta-feira, 23 de julho de 2020

CASCÃO - TEMPORAL


FALAR QUE ME EMOCIONEI lendo uma Graphic MSP, aparentemente, já se tornou um lugar-comum. Porém, é totalmente verdadeiro.
É incrível a capacidade que essas revistas têm de me deixar completamente choroso (rs) e é incrível também a capacidade que o Sidney Gusman tem para escolher os artistas que vão participar da feitura dessas hqs. Ele não erra. (momento “rasgação de seda” ON) É a prova clara do seu talento como editor. (momento “rasgação de seda” OFF)
E na escolha de Camilo Solano (roteiro e arte) para criar uma hq solo do Cascão, Sidão, Mauricio de Sousa e a Mauricio de Sousa Produções marcaram um golaço!
A revista começa com Cascão descobrindo que os pais vão viajar em um cruzeiro. Ele, obviamente, é contra e já deixa claro que não vai. Então, só resta ao garoto passar três dias na casa de seu tio Gerson. O que o deixa completamente transtornado, pois a única certeza que tem é que o tio é um tremendo de um esquisitão. E, para piorar as coisas, a previsão é de muita, muita chuva.
Assim começa a grande aventura desse menino que, além da famosa aversão a água, tem também como característica marcante a imaginação.
Em “Temporal”, Tio Gerson (um personagem incrível e cativante!) é fundamental na jornada do Cascão para abraçar a sua imaginação e se permitir ver as coisas de um jeito diferente.
A imaginação é o ponto central de tudo. Ela é o início e o fim. É ela quem cria e fortalece os laços. É através dela que se consegue ver a beleza de tudo. Não à toa uma frase que é dita por Cascão na hq pode ser facilmente aplicada à própria graphic: “Ficou tão linda que não dá nem vontade de piscar”. Sendo sincero, eu pisquei, mas a culpa foi toda das lágrimas que insistiam em cair enquanto eu lia. A emoção foi inevitável.
Essa graphic MSP é, além de tudo, um afago na alma, como quando alguém muito querido diz “Ei, esse temporal vai passar. Vai ficar tudo bem”.
Camilo Solano soube criar uma história com todo o carinho e cuidado que o personagem exige.
“Cascão – Temporal” é sensível, bonita, divertida e emocionante.

terça-feira, 21 de julho de 2020

BLACK HAMMER - ERA DA DESTRUIÇÃO PARTE II


EM "ERA DA DESTRUIÇÃO - PARTE II" fica muito claro que "Black Hammer" é uma história de heróis que pouco se importa com heróis e menos ainda com os seus feitos. Essa hq fala sobre as pessoas por "baixo" das máscaras e mantos.
É uma história que se preocupa em desenvolver bem os seus personagens. Humanizá-los (até quem não é humano) para que ao deitarmos o nosso olhar sobre eles, nos preocupemos com a sua sorte.
Quarto encadernado da série "Black Hammer", lançada no Brasil pela Editora Intrínseca , criada por Jeff Lemire e Dean Ormstron, "Era da Destruição - Parte II" encerra - por ora - a saga dos heróis de Spiral City que, após anos presos em uma fazenda isolada em uma cidade misteriosa, levando uma vida forçadamente pacata, totalmente diferente de outrora, quando combatiam crimes e vilões, se dão conta do que os prendia ali.
Com essas revelações, e novas reviravoltas, "Black Hammer" fecha um ciclo para esses heróis e para os leitores. Mantendo a qualidade das histórias no mais alto nível.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

ANAMNESE


EM UM MUNDO DESCONHECIDO, a curandeira da vila persegue o espírito maligno que possui um jovem.
"ANAMNESE" (texto Marcio Moreira e arte Talles Rodrigues) é uma jornada pelos labirintos da mente humana, cujos questionamentos sobre o que é realidade são feitos não apenas aos personagens, mas também ao leitor.
Um texto direto que desperta uma discussão psicológica e filosófica sobre o Eu, sem psicologismos fáceis.
E a arte, quando estamos dentro da mente do jovem, apresenta estranhas formas surreais que são, paradoxalmente, tão reais e palpáveis que podem ser fortes o suficiente para aprisionar qualquer um.
Uma paralisia angustiante causada pelo medo de falhar.
E aí, não tentar é mais fácil?
O que fazer para se livrar desse espírito?
Mover-se (aprender a andar de bicicleta, talvez?) parece ser essencial. E cada passo para dentro de si, é também um passo em direção à liberdade.
Em Anamnese nada é simples, mas não é impossível.
A obra é o primeiro título da coleção Estalos, publicada pela Reboot Comic Store, você pode adquirir a sua revista no site da loja.

terça-feira, 5 de maio de 2020

CAPITÃO FEIO - TORMENTA



EXISTEM ALGUMAS graphic novels da Mauricio de Sousa Produções que despertam em mim o desejo que suas histórias e arte - e, consequentemente, o(s) artista(s) - não fossem do selo Graphic MSP, e sim, das revistas regulares mensais (é isso mesmo, estou falando com vocês, Astronauta e Turma da Mata).
E com Capitão Feio não está sendo diferente. Esse desejo veio principalmente após ler a maravilhosa "Tormenta". Porque, "Tormenta", não só agrada como empolga no melhor estilo hq de super-herói. Tem ação, drama, vingança, mistério... Uma baita aventura recheada com diversas (auto)referências.
E já que obviamente não será uma mensal, é forte a torcida para que ela tenha diversas continuações (cruzando os dedos para isso, ouviu, Sidney Gusman?), assim como está acontecendo com a ótima Astronauta, de Danilo Beyruth (e, infelizmente, não aconteceu com Turma da Mata, de Arturh Fujita, Davi Calil e Roger Cruz).
Essa graphic MSP, assim como diversas outras da coleção, vem desmentir o famoso clichê que a sequência de um sucesso sempre decepciona. Os irmãos Magno e Marcelo Costa conseguiram superar a sua história anterior.
Mas as duas não devem ser comparadas, pois seguem caminhos distintos no cerne de suas narrativas.

Se em "Identidade" o Capitão está tentando entender o seu lugar no mundo e qual é a sua participação nele, em "Tormenta", mesmo sem saber exatamente quem ele é, ele resolve abraçar e mergulhar fundo naquilo que pode se transformar.
Nesta nova história, Feio enfrenta um novo vilão que tem poderes suficiente para derrotá-lo. E se não bastasse isso, ele continua sendo perseguido pelo ardiloso Doutor Olimpo, ótimo vilão digno de um Lex Luthor e que deixaria este muito orgulhoso. Não só devido a aparência, mas também na engenhosidade e determinação em derrubar os seus inimigos. Meio que naquele lance de buscar bons resultados pensando em um bem maior, mas com as piores ações possíveis. Olimpo quer a todo custo destruir Feio. E fará o que for preciso para conseguir isso.
O traço e as cores da hq dão uma ótima dinâmica para a ação (inclusive, Marcelo é o responsável pelas cores da maravilhosa "Piteco - Ingá", de Eduardo Ferigato). Em alguns quadros, lembra bastante aqueles filmes que mesmo sendo ficção optam por uma fotografia mais "realista", quase documental.
É um quadrinho feito com zelo. Prova disso é que somente lendo o segundo volume descobre-se que diversas informações importantes haviam sido escondidas na edição anterior. Os irmãos não forçaram uma continuação em "Identidade", mas souberam aproveitar bem detalhes para que isso fosse utilizado em seguida. Isso faz acreditar que não é diferente em "Tormenta" e ela deve estar cheia de easter-eggs importantes para uma próxima edição. Sem contar o drama que deverá ser desenvolvido após revelações feitas neste volume.
"Tormenta" apresenta uma excelente história de (anti)herói utilizando o, provavelmente, maior vilão da Turma da Mônica.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

TINA - RESPEITO

Capa de Tina - Respeito

Quando comecei a ler “Respeito”, fiquei pensando Eu quero que todas as minhas amigas também leiam esta hq”, porém, o pensamento mais acertado éTODO MUNDO deve ler esta hq”.
O que, para mim, alguns momentos da história soa como impactante, para muitas mulheres, elas chamam isso de um dia “normal” (que de normal não há nada!). Praticamente todas as mulheres conhecem muito bem o que aconteceu à personagem nesta história. Se todas não viveram algo parecido, pelo menos, conhecem uma que sim.
Tina é uma jornalista recém-formada, e finalmente o seu sonho de trabalhar na redação de um grande veículo de imprensa se tornando realidade. Ela só não esperava que seu maior desafio fosse ser pessoal, e não profissional. Em “Respeito”, Fefê Torquato (texto e arte) usa a personagem de Mauricio de Sousa para expor diversos problemas que as mulheres enfrentam em suas vidas. O assédio sexual, moral, machismo e vários outros tipos de preconceito… Tudo está lá, sendo mostrado para nós sem ser “lacrador”, como algumas pessoas imbecis chamaram a obra, numa tentativa de minimizá-la.
A Fefê conseguiu construir algo grande demais para ser detido por imbecis. Ela aborda com muita verdade o medo da mulher, da mulher negra, da homossexual, da trabalhadora. Fez uma obra sincera e que não pede permissão para expor os males que assombram, se não todas mulheres, pelo menos a maioria delas.
Os homens devem ler essa graphic novel porque é primordial se colocar na escuta quando alguém que está em seu lugar de fala discorre sobre algo que lhe atinge. É um bom passo para exercitar a empatia. O que para muitos de nós é exagero uma mulher ficar incomodada porque tem um homem andando a poucos passos dela na rua, conforme mostrado na história, isso é um tormento real e palpável no dia a dia de muitas mulheres.
As crianças – meninos e meninas – PRECISAM ler porque quanto mais cedo elas entenderem como devem agir diante disso tudo, seja não se calando, seja não cometendo o assédio, melhor.
As mulheres devem ler não somente pela identificação, mas também como um convite a ação. Lembrá-las que a sociedade, infelizmente, não para para ouvir as suas dores. Então, nada melhor que fazer barulho juntas. Se não serão ouvidas porque sofrem, serão ouvidas porque são muitas e estão unidas.
É muito bonito ver essa rede de apoio se construindo na história.
Outra coisa muito bonita é a arte de Fefê. Ela criou um trabalho com cores suaves e um traço delicado que faz com que seja mais leve mergulhar em assuntos tão pesados.
Nos mostra também uma Tina menos curvilínea (algo tão explorado em histórias passadas), numa tentativa de fazer as pazes com a primeira versão da personagem. Ela tem que ser notada pelo que pensa e fala, não pelo corpo ou como se veste.
Como sempre, não canso de parabenizar o Sidney Gusman pelo magnífico trabalho com as Graphic MSP. Não só a proposta de remodelar personagens tão queridos e amplamente conhecidos, mas por aproveitar esse alcance gigante da Turma e tratar de temas que são essenciais.
Assim como Jeremias – Pele, Tina – Respeito é o tipo de obra que a gente fica dizendo que todo mundo deve ler. Que é obrigatória nas estantes de casa e das escolas. Pois é atualíssima, necessária, (dolorida) e inteligentíssima.