Livro Sabor Idêntico ao Natural |
SEM VIAGEM no Tempo, painéis com luzes piscando, encontro com seres espaciais e o "pew-pew" de pistolas lasers, o que sobra para falar na ficção científica?
Se depender de Nathalie Lourenço ( @craudia ), muita coisa!
Em "Sabor Idêntico ao Natural", Nathalie utiliza o gênero sci-fi para tratar de assuntos pertinentes à atualidade. Passeando pelo ordinário, ela faz o leitor criar uma identificação e uma conexão, ao ponto de dizer/pensar "Isso quase aconteceu com alguém qu'eu conheço".
Esse é o segundo livro de contos da autora (o primeiro é "Morri por Educação". Também resenhado aqui. E do pequeno livro com grandes poemas "Lusco-Fusca". Além de diversos contos em coletâneas de livros e/ou revistas literárias), e pode ser adquirido no site da editora Vacatussa.
O título é perfeito, pois é uma obra que trata de todas as artificialidades contemporâneas. Seja aquilo que a gente come, fingindo ser o gosto real, sejam as relações que fingimos viver em sua completude.
É um livro que, claramente, pode virar uma obra audiovisual (uma série antológica, por exemplo). Mas não é isso que dá o seu mérito. E muito menos deve ser apenas comparada a uma famosa série. Pois há influência de todo universo da Ficção Científica, qu'é bem maior que qualquer "espelho negro".
"Sabor" é sci-fi da melhor qualidade por conta de sua acuidade narrativa. E conduzir uma narrativa envolvente é algo que Nathalie faz de olhos fechados.
A autora sabe usar o humor, o trágico, o atual e o inesperado de forma tão fluída, que pensar nesse "Amanhã Tecnológico" como sendo o "Hoje Tecnológico" é fácil e inevitável. 'Tá tudo ali: a exploração do trabalhador; a gordofobia; a alienação pela tecnologia; a "maquinização" do ser humano e a humanização das máquinas.
E se o sabor do Futuro é idêntico ao natural, essa obra deixa bem claro qu'esse sabor é agridoce.