Capa de Tina - Respeito |
Quando
comecei a ler “Respeito”,
fiquei pensando
“Eu
quero que todas as minhas amigas
também
leiam
esta hq”, porém, o pensamento
mais
acertado
é
“TODO
MUNDO deve ler
esta hq”.
O
que, para
mim, alguns momentos da
história soa
como impactante, para
muitas mulheres, elas chamam isso de um
dia “normal” (que de normal não há nada!).
Praticamente
todas
as mulheres conhecem
muito bem o que aconteceu
à personagem
nesta história. Se todas não viveram algo parecido, pelo menos,
conhecem uma
que sim.
Tina
é uma jornalista recém-formada, e finalmente vê
o seu
sonho
de trabalhar na
redação de
um grande veículo de imprensa
se tornando realidade. Ela só não esperava que seu maior desafio
fosse ser pessoal, e não profissional. Em “Respeito”, Fefê
Torquato (texto e arte) usa a personagem de Mauricio de Sousa para
expor diversos
problemas
que as
mulheres enfrentam em
suas vidas.
O
assédio
sexual, moral,
machismo e
vários
outros tipos
de preconceito… Tudo está lá, sendo
mostrado
para nós sem ser “lacrador”, como algumas pessoas imbecis
chamaram a obra, numa tentativa de minimizá-la.
A
Fefê
conseguiu construir algo grande demais para ser detido por imbecis.
Ela
aborda com muita verdade o
medo da mulher, da mulher negra, da homossexual, da trabalhadora. Fez
uma obra sincera e que não pede permissão para expor os males que
assombram, se não todas mulheres, pelo menos a maioria delas.
Os
homens
devem ler essa
graphic novel
porque é primordial se colocar na escuta quando alguém que está em
seu lugar de fala discorre sobre algo que
lhe atinge.
É um bom passo para exercitar a empatia. O que para muitos de nós é
exagero uma mulher ficar incomodada porque tem um homem andando a
poucos passos dela na
rua, conforme
mostrado na história,
isso
é um tormento real
e palpável no
dia a dia de muitas mulheres.
As
crianças
– meninos e meninas – PRECISAM ler porque quanto mais cedo elas
entenderem como devem agir diante disso tudo, seja não
se
calando,
seja não cometendo o assédio, melhor.
As
mulheres
devem ler
não
somente pela identificação, mas também como
um convite
a
ação.
Lembrá-las
que a
sociedade,
infelizmente,
não para para ouvir as suas dores. Então, nada melhor que fazer
barulho juntas. Se não serão ouvidas porque sofrem, serão ouvidas
porque são muitas e
estão unidas.
É
muito
bonito ver essa rede de apoio se construindo na história.
Outra
coisa muito bonita é a
arte de Fefê. Ela criou
um trabalho
com cores suaves e um traço delicado que faz
com que seja mais leve mergulhar em assuntos tão pesados.
Nos
mostra também uma Tina menos curvilínea (algo tão explorado em
histórias passadas), numa
tentativa de fazer as pazes com a primeira versão da personagem. Ela
tem que ser notada pelo que pensa
e fala,
não pelo corpo ou como se veste.
Como
sempre, não canso de parabenizar o Sidney
Gusman
pelo magnífico trabalho com as Graphic MSP. Não só a proposta de
remodelar personagens tão queridos e amplamente conhecidos, mas
por aproveitar
esse alcance gigante da Turma e
tratar
de
temas que são essenciais.
Assim
como Jeremias – Pele, Tina – Respeito é o tipo de obra que a
gente fica dizendo que todo mundo deve ler. Que é obrigatória nas
estantes de casa e das escolas. Pois
é
atualíssima, necessária, (dolorida)
e
inteligentíssima.