JEREMIAS
– PELE, escrita por Rafael Calça e desenhada por Jefferson Costa é
a 18ª graphic novel lançada pela Maurício de Sousa Produções,
através do selo GraphicMSP. Nela, acompanhamos o jovem protagonista
vivendo com a sua família, sonhando em ser astronauta e lendo
histórias de heróis. Ou seja, sendo uma criança feliz. Tudo
parecia normal para ele até sentir na pele os males que o racismo
pode causar.
A
partir daí ele se dá conta que existem pessoas que acham que o fato
de ser negro faz dele alguém menor. Que a cor da sua pele deve ser
determinante de quem ele pode se tornar.
Com
essa nova percepção sobre si [e sobre o que essas pessoas esperam
quem ele seja], Jeremias, com o auxílio dos seus pais, terá que
descobrir meios de como enfrentar o racismo que sofre e como deverá
se impor diante dessas pessoas. Sejam as que praticam o racismo de
forma aberta ou de maneira velada.
Em
alguns momentos, vemos outros personagens criados por Maurício de
Souza, mas que não interagem na história, estão ali ao fundo.
Porém, bem visíveis. O que para além de inserir
o Jerê no Universo da Turma da Mônica, ou uma brincadeira de easter
eggs, a presença desses
personagens nos faz pensar que, na verdade, Jeremias esteve lá –
em suas histórias – esse tempo todo e nós nunca o vimos.
É
um história dolorosa, pois você está acompanhando a vida de uma
criança, toda cheia de fantasia e brincadeira e, de repente - #pah#
-, uma pancada.
Vem o racismo, do nada. Sem
explicação. Do jeito que é
na vida real, pra quem sofre isso.
Jeremias
é apenas uma criança como qualquer outra, e só deseja sonhar.
Já
foram lançadas 19 graphicMSP [a última foi Horácio - Mãe].
Algumas com histórias belíssimas, engraçadas e interessates.
Porém, essa 18ª HQ, apesar de dolorosa, é também uma história
essencial.
Necessária
para discutir o que algumas pessoas chamam de “vitimismo” por
parte da comunidade negra. E mostrar que representatividade é algo
importante. E faz isso através de um personagem negro como
protagonista, e dos artistas Rafael e Jefferson que além de negros,
inserem na história [de maneira orgânica e longe do panfletário]
situações que – infelizmente – vivenciaram. E assim, evitam
qualquer possibilidade de seu discurso ser chamado de “mimimi” -
termo usado geralmente por racistas que se opõe a representatividade
e o lugar de fala.
Como
sempre, Maurício de Sousa e Sidney Gusman estão de parabéns por
escolher tão bem o time de artistas.
Por
fim, Jeremias – Pele deve ser lida por adultos e crianças, negras
ou não, fãs e para quem nunca abriu uma HQ na vida. É uma revista
forte, dolorosa e indipensável para todos.