quinta-feira, 6 de agosto de 2015

NORMA JEANE*

Acordei, levantei da cama e, quando me olhei no espelho, um susto! Eu não tinha mais barba, nem tatuagens e pelos por todo o meu corpo. Aliás, o que eu via ali não era nem o meu corpo! Aquele rosto que olhava de volta para mim tinha para oferecer apenas um belo sorriso sensual, cabelos loiro-brancos, um olhar profundo e triste, e uma pele clara e lisa com uma cicatriz no abdômen [que parecia uma tentativa de pedido de desculpas e precisava estar ali para justificar toda a beleza de sua dona!].
Eu era ela, a Diva. Era Marilyn. Sim, Marilyn Monroe.
Estava nua. “Vestindo” apenas duas gotinhas de Chanel nº5.
Sentindo aquele delicioso cheiro em mim e toda volúpia que transbordava de cada gesto meu, percebi-me linda como nunca! Corri ao guarda-roupa e lá estava ele, o vestido branco. Coloquei-o e fui para a rua. Queria ser desejada, queria sentir o poder de ter todos os homens aos meus pés.
Corria pelas calçadas, como uma criança desvairada. Esperando a qualquer momento uma lufada e que meu vestido esvoaçasse para que eu fingisse desespero em cobrir-me, como uma moça pudica. E sorrisse maliciosamente para todos que olhassem, como uma mulher fatal.
Para onde quer que eu fosse, pensava que deveria chegar atrasada. Tal qual quando cheguei naquela festa. E então, diante de todos, usando outro vestido tão lindo e eterno quanto o primeiro – minha falsa pele –, cantei “Happy Birthday, Mr. President” para ele, o meu amor. Nem sei se é o maior de todos como as pessoas adoram falar. Mas, sem dúvida, era alguém que eu amava, sim. Digo isso, porque estou no corpo dela, porque sou ela. Sei que, provavelmente, seria o que ela diria também.
No entanto, ele não foi o único.
Hoje, por exemplo, procurei e dei Amor. Acredito que fui feita para amar. Amar a todos e todas. E, Amor, é o que eu sei dar. Caí nos braços de reis e plebeus!
E nos braços de tantos homens, encontrei adoradores, loucos e apaixonados, que também são loucos. Porém, todos gozavam, mas não gozavam comigo. Gozavam apenas para eles mesmos. Não olhavam para mim. Olhavam através de mim. Nenhum deles percebeu o meu gemido. Um gemido que anseia proteção. Ou o meu olhar vazio e desesperado que procura pelo amor do pai. Um amor que não chega. Que não devolve o amor que eu dou.
Mas, sem pestanejar, eu devorei a todos. Suas almas, agora me pertencem. Suguei suas Vidas e se tornaram apenas zumbis que repetem meu nome como um mantra.
Senti-me uma deusa. Isso me dá a certeza de que sou imortal. De que o Mundo é todo meu. Basta esticar a mão para pegá-lo.
Mas eu mereço esse Mundo? E ele, me merece?
Volto para casa.

À noite, já na cama, sozinha, pensando em tudo o que me aconteceu, após engolir todos os comprimidos e prestes a adormecer, tive uma visão. Consegui ver quem eu realmente sou: me vi Norma Jeane.


TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NO SITE VEM-VÉRTEBRAS.

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