Acordei,
levantei da cama e, quando me olhei no espelho, um susto! Eu não
tinha mais barba, nem tatuagens e pelos por todo o meu corpo. Aliás,
o que eu via ali não era nem o meu corpo! Aquele rosto que olhava de
volta para mim tinha para oferecer apenas um belo sorriso sensual,
cabelos loiro-brancos, um olhar profundo e triste, e uma pele clara e
lisa com uma cicatriz no abdômen [que parecia uma tentativa de
pedido de desculpas e precisava estar ali para justificar toda a
beleza de sua dona!].
Eu
era ela, a Diva. Era Marilyn. Sim, Marilyn Monroe.
Estava
nua. “Vestindo” apenas duas gotinhas de Chanel nº5.
Sentindo
aquele delicioso cheiro em mim e toda volúpia que transbordava de
cada gesto meu, percebi-me linda como nunca! Corri ao guarda-roupa e
lá estava ele, o vestido branco. Coloquei-o e fui para a rua. Queria
ser desejada, queria sentir o poder de ter todos os homens aos meus
pés.
Corria
pelas calçadas, como uma criança desvairada. Esperando a qualquer
momento uma lufada e que meu vestido esvoaçasse para que eu fingisse
desespero em cobrir-me, como uma moça pudica. E sorrisse
maliciosamente para todos que olhassem, como uma mulher fatal.
Para
onde quer que eu fosse, pensava que deveria chegar atrasada. Tal qual
quando cheguei naquela festa. E então, diante de todos, usando outro
vestido tão lindo e eterno quanto o primeiro – minha falsa pele –,
cantei “Happy Birthday, Mr. President” para ele, o meu amor. Nem
sei se é o maior de todos como as pessoas adoram falar. Mas, sem
dúvida, era alguém que eu amava, sim. Digo isso, porque estou no
corpo dela, porque sou ela. Sei que, provavelmente, seria o que ela
diria também.
No
entanto, ele não foi o único.
Hoje,
por exemplo, procurei e dei Amor. Acredito que fui feita para amar.
Amar a todos e todas. E, Amor, é o que eu sei dar. Caí nos braços
de reis e plebeus!
E
nos braços de tantos homens, encontrei adoradores, loucos e
apaixonados, que também são loucos. Porém, todos gozavam, mas não
gozavam comigo. Gozavam apenas para eles mesmos. Não olhavam para
mim. Olhavam através de mim. Nenhum deles percebeu o meu gemido. Um
gemido que anseia proteção. Ou o meu olhar vazio e desesperado que
procura pelo amor do pai. Um amor que não chega. Que não devolve o
amor que eu dou.
Mas,
sem pestanejar, eu devorei a todos. Suas almas, agora me pertencem.
Suguei suas Vidas e se tornaram apenas zumbis que repetem meu nome
como um mantra.
Senti-me
uma deusa. Isso me dá a certeza de que sou imortal. De que o Mundo é
todo meu. Basta esticar a mão para pegá-lo.
Mas
eu mereço esse Mundo? E ele, me merece?
Volto
para casa.
À
noite, já na cama, sozinha, pensando em tudo o que me aconteceu,
após engolir todos os comprimidos e prestes a adormecer, tive uma
visão. Consegui ver quem eu realmente sou: me vi Norma Jeane.
TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NO SITE VEM-VÉRTEBRAS.
TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NO SITE VEM-VÉRTEBRAS.
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